sexta-feira, fevereiro 06, 2009

She's lost control again - Mojo Books

Você conhece a Mojo Books? Trata-se de um site de livros e quadrinhos eletrônicos muito legal. A premissa desses livros e quadrinhos é "Se música fosse literatura, que história contaria?". E cada um pode mandar seus livros (em geral são curtinhos, afinal são feitos pra ler no computador) e também é possível mandar contos. Resolvi aproveitar uma ideia de um post aqui do blogue, dei uma repaginada e transformei num novo conto (ou single) sobre a música She's lost control, do Joy Division.No ano passado lançaram um filme sobre a vida do vocalista do Joy Division, Ian Curtis, chamado Control, que ajudou na criação dessa história. Pegue uma canção que você goste, tire o "mojo" dela e transforme num conto. Ou seja fodão e pegue logo um álbum e faça seu livro. É uma brincadeira divertida e um ótimo exercício para a escrita. Eis minha versão para "She's lost control".


***

She's lost control


Ela corre. Desesperada e sem motivo. Sem nome nem idade. Todos os seus dentes parecem ter caído. Nas ruas, pessoas se esfregam e se beijam quase que por obrigação. A cerveja é choca e o ar é seco, sujo e repleto de idéias repetidas. Só agora ela percebe que está nua e se vê no meio de uma repentina multidão. Ela corre mais e mais . Não sai do lugar. Não há onde se esconder. Ela cai, acorda e convulsiona. Inerte. Perde o controle. E morre de medo.

Ela se lembra do filme e da trágica história do jovem roqueiro que se matou. Ele começou a ter crises como a dela pouco tempo depois de ver uma garota ter um ataque epiléptico. Ele também era triste e confuso. Maldito filme. Será que aquele teria sido o primeiro ataque de outros tantos que viriam? Sim. Ela vai perder o controle mais muitas vezes. Seus olhar continuará grave e sem vida. Vai ser devorada pela doença, pela indiferença e pelos remédios ineficazes. Malditos sejam todos. Só o chão não tem pena dela. É o amante sacana que a recebe com um beijo violento e quente toda vez que ela perde o controle.

O tempo cura seu ressentimento e apaga o que não interessa. Ela não quer se separar da doença. Aprende a amar a vertigem e o prazer de não ter controle. Ela ri e já não tem mais medo.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Oi?

-Boa tarde. A Malu, uma loirinha que mora no terceiro andar, está?
-Oi?
-Oi, tudo bem?
-Tudo e com você, rapaz?


Silêncio.


-E o cara demora mais de 4 meses pra escrever um diálogo sem-vergonha desses!
-Oi?
-Oi, tudo bem?
-Opa! Tudo jóia e com você, meu querido?


Novo Silêncio. Mas esse vai durar bem pouco tempo, prometo.

terça-feira, setembro 16, 2008

despedida dos sonhos

-Você tá viva, vó. Mas... você tinha morrido. Ah, que bom que você tá aqui.
-Certo que eu tô, Rodrigo. E você nem me ligou mais, né?
-Ô vó, mas... você não estava mais aqui, gata. Eu tava com tanta saudade. Eu te amo tanto.
--Eu também te amo. A vó gosta muito de você, viu? Não chora não.


E foi assim que eu consegui me despedir da minha vó Florência, da minha florzinha. Num sonho perfeito. Ela quis ir embora assim sem dar tchau, sabe? Pegando todo mundo de surpresa. Eu achava que aquela velhinha era imortal. Cheia de sabedoria dos humildes, dos iletrados (aquela sabedoria que os imbecis reacionários acham que não tem valor), o conhecimento de quem viveu, de quem sentiu e teve história pra contar. E contava. E vivia. E me fazia viver sensações tão marcantes. A minha infância tem cheiro de folha de goiaba. Tem barulho de rádio zunindo baixinho. Tem feira. Tem passeio no mercado municipal do bairro. Tem gosto de manga fresquinha e bolinho doce que era pra eu comer até empanturrar. Tem um alívio indescritível por ela conseguir remendar minha colcha velha favorita e impedir que minha mãe a jogasse fora. Tem histórias e lições de vida de uma Florzinha que criou sozinha sete filhos. E ainda deu a luz a um deles sozinha). E tomou conta de oito netos. E teve que acompanhar o enterro de um deles. E nunca desistiu. Ela acreditava na vida e em Deus. Eu não acredito em Deus, mas acredito na minha avó. E talvez isso seja suficiente. Sem perceber, ela me ensinou que o que interessa são as sensações e emoções que vivemos e despertamos nos outros. O resto a terra come.



obs: Quando acordei, fui conversar com meu pai e ele me contou que teve um sonho parecido. Louco isso, não?

sexta-feira, setembro 05, 2008

Voltamos já

Passou tanto tempo sem aparecer e continuava sem ter nada a dizer. Sem ter nada a sentir. Talvez apenas ressentir. Achou melhor ir ali viver. Ele já volta.

segunda-feira, julho 28, 2008

os dois segundos.

Evaldo Rubens está preso. Eternamente. Naquele instante em que, no meio do choro, alguém faz alguma palhaçada que te faz sorrir subitamente. Evaldo Rubens conseguiu a delícia de morar naqueles eternos dois segundos em que a tristeza absoluta (ou uma emoção profunda) transforma-se numa risada repentina. E tudo parece que acabou de ficar bem. E a respiração ofega. E o cérebro não sabe como agir. E seu coração fica indeciso. E ele sente culpa por aquele espasmo de alegria. E sente o gosto salgado da lágrima sorridente. Parece que Evaldo Rubens achou um bom lugar pra ficar. Lá, só ele chove. E tudo é sem querer.



obs: Why so serious?

sexta-feira, julho 04, 2008

Glósóli

Eu tenho um certo fascínio por beirais. Desde pequeno. Sinto um medo insano de me esborrachar lá embaixo e uma vontade imensa de viver a sensação da queda. Perto de onde moro, tinha um casinha que ficava bem embaixo de um terreno na esquina com a avenida. Uns 15 metros de altura. Pra um garoto de 6, 7 anos eram quase as fossas abissais. Eu pensava em andar me equilibrando ali... Só tinha coragem de botar um pé (e minha mãe ainda segurava minha mão). Eu sempre pensava em como seria se eu vivesse aqueles instantes no ar. De repente eu poderia descobrir algum dom especial para o vôo enquanto um trilha sonora tipo Sigur Ros ou Arcade Fire tocasse. Só que hoje aquele terreno é murado. Eu ainda não descobri como se voa. E já caí tantas, tantas vezes. Dói, mas levantar sozinho é libertador. Ainda mais se tiver uma boa trilha sonora.



PS: Assista ao clipe da banda islandesa Sigur Ros chamado "Glósóli" (thanx, May!). A cena final é aquilo que eu sonhava fazer, só que em escala bem menor e não tão epicamente. E com um sol não tão brilhante assim.