terça-feira, fevereiro 27, 2007

Dicotomias (ou pelo direito legítimo de não ter certeza de merda nenhuma)

Ela escorre pelos dedos. Eu evaporo. Ela acha que não sabe o que quer. Eu tenho certeza que não sei o que quero. Ela quer Lua. Eu quero Sol. Ela quer verso. Eu quero prosa. Ela quer lírios. Eu trago orquídeas. Ela foi para o sul. Eu fiquei aqui... Estúpido... enxugando as mãos.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Talvez não

Foi no fim daquela tarde ensolarada de abril -até porque as tardes ensolaradas de abril são ideais pra se começar um texto. Ela vestia uma saia preta, blusa branca, um colar e lágrimas. Lágrimas de uma estranha e melancólica alegria. Talvez pela lembrança dos felizes anos que desperdiçou e dos corações que despedaçou. Talvez por nada disso. Talvez por mais que isso. Talvez aqueles olhos vagos estejam fartos da indecisão, da falta de certezas em sua vida. Ela pensa no futuro, relembra o passado e percebe que só existe o presente, que também já passou. Talvez por isso ela ainda chore, enquanto você insiste em sorrir nesse ensolarado fim de tarde de abril.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

tons de cinza

-Como se diz "Atualiza essa merda de blog, rapaz!" em alemão?
-Pfff. Não faço idéia.
-Mérde!

*E uma daquelas bolas de feno atravessa a enorme e vazia metrópole cinza, na quarta-feira*

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Notas de um folião

Num tempo sombrio, crianças são arrastadas e despedaçadas por carros fugitivos. Patéticos, nos mobilizamos e decidimos discutir e mudar nossas leis vigentes. Queremos dar um basta em toda essa violência. Berramos que esse país precisa de educação. Mas qual é a educação que vai transformar nossos homicidas em bons moços? Queremos maioridade penal para moleques assassinos na esperança de que isso sane esse país doente. Rezamos pela paz em nosso país democrático (que democracia, estúpido!? É tudo de mentirinha). Nos conformamos já que Deus é brasileiro e esse é o país do carnaval. Aliás, logo deixaremos essa história indigesta de lado para dar vazão a alegria da festa pagã. E voltaremos a nos indignar e querer mudanças logo que acontece uma grande atrocidade ou caso o Brasil faça feio na Copa América. Se vencermos, aí a esperança volta. E sentiremos orgulho desse país de elite imbecil e classe média infame. Como dizem, resta ao povo miserável e faminto fazer a revolução.

Agora chega desse papo óbvio porque já comprei meu abadá e Salvador me espera! (mentira)

terça-feira, fevereiro 13, 2007

música para ouvir

Filarmônica de Berlim

Filar Mônica deber Lim.

Fi, lar, Mô! Ni, cadê Berlim?

Tarantantantaaaaaaan


Berlar Fônica de Filarlim

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

A queda e a intransigência do chão

De tanto sonhar com o abismo, Clarice caiu vertiginosamente na manhã daquela segunda-feira estranhamente ensolarada. Foi uma queda suave e certa, mas de fim bruto como toda queda deve ser. Clarice deleitou-se com cada segundo de vertigem e de saboroso pavor que precedeu seu despencar. O chão anseava por ela. Era uma atração irresistível. Então os olhos cerraram, ela sorriu seu mais estúpido sorriso e tropeçou no vazio. Suas sandálias surradas ficaram no parapeito da janela. Não é de bom tom mergulhar rumo ao abismo vestindo sandálias surradas nos pés.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

as garrafas e o mar

Como em toda manhã de terça-feira, ele escreve uma carta apaixonada, coloca dentro de uma garrafa vazia de vinho e atira ao mar na vã esperança de que sua amada -que misteriosamente sumiu naquele oceano- volte. Ele fazia questão de esvaziar cada garrafa bebendo-a inteira. Anos se passam, sua pele envelhece, seus cabelos branquejam e as garrafas continuam sendo enviadas para o mergulho sem volta naquele mar. O único efeito disso foi uma cirrose crônica. Mas mal sabia ele que naquela terça-feira do ano que recém começara, tudo seria diferente. Sem nenhuma razão aparente, ele decide caprichar ainda mais na carta e passa a ter certeza de que obteria sua tão desejada resposta. Escreve lindamente e coloca o papel dentro da garrafa de seu melhor vinho e, quando vai lançá-la ao mar, é pego no flagra:

-Polícia ambiental. Teje preso, vagabundo!

domingo, fevereiro 04, 2007

anotação, né Alice?

É. Faltaram palavras. Sobraram mãos sutis. E os olhos, envergonhados, fingiram não se cruzar. Mas sobraram boas sensações. E, como ela disse, algumas coisas sentidas são -de fato- intraduzíveis! Gostos e maravilhas. Porta do espetáculo e frases pseudo-codificadas. Precipitação vez ou outra é bom. Entre o seu soluço de ser e minhas meias palavras, talvez tenha encontrado algo novo. E gosto disso.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

em busca daquela palavra sem tradução

Começou timidamente logo cedo, em meio ao cheiro de mofo e garoa matutina. Chegou ao fim da manhã com cara da fria noite de ontem. Depois do almoço preguiçosamente melhor. Ao fim da tarde, depois de ouvir aquela voz melíflua (yeah! Consegui usar essa palavra!!) o semblante já era de um prazer ácido e latente. Então, ao cair da noite, o êxtase era total. Bliss. E foi se esvaindo conforme assistia a porra da novela. O ânimo, o prazer, a timidez, a criatividade. Bliss. Queria ser Katherine Mansfield. Queria ser Bertha. Queria Bliss. Mas já não era (e nunca fora) nada disso. Queria ter uma palavra em lingua portuguesa que servisse para dar a dimensão dessa euforia absoluta que sentira. Essa palavra -bliss- não existe no idioma da palavra saudade. Nenhuma comporta sua intensidade. Contentou-se em então em reler aquele conto de Katherine. Bliss. Sabia que só isso importava.