quinta-feira, novembro 23, 2006

Desculpa atrapalhar a viagem de vocês

Os dois bancos altos do ônibus estão ocupados. Quase todos os outros também estão. As pessoas sentam-se próximas ao corredor, para evitar o Sol ardido da manhã e para evitar a companhia de um desconhecido num ônibus ainda não muito cheio. Procuro um lugar e só encontro o mais deprimente de todos: o banco de trás do mais alto do ônibus, aquele que é do mesmo tamanho e, ao mesmo tempo, menor que todos os outros. Eu sou menor quando estou ali. No Discman ouço The Who, bocejo e me sinto estranhamente infeliz. Acredito sinceramente que uma moça bonita passou pelo corredor e sentou-se mais ao fundo do ônibus. Falta coragem e sobra preguiça para confirmar essa desconfiança. O homem da bala passa por baixo da catraca, pede desculpa por atrapalhar a viagem e oferece a todos “as deliciosas balas de goma, três por um real, quem conhece sabe que é de qualidade, eu vou tá deixando na mão dos senhores passageiros, quem puder me ajudar eu agradeço e quem não puder eu agradeço da mesma forma, uma boa viagem a todos e que Deus abençoe”. Ele vai embora com algumas moedas na mão. Eu continuo na árdua tarefa de rabiscar alguma coisa numa folha de rascunho: letras tortas, idéias irrelevantes, conceitos equivocados, tudo o que faria um bom jornalista que escreve em ônibus e não quer utilizar mais de um longuíssimo parágrafo. Escrever ou ler em um veículo me deixa ridiculamente enjoado e isso me chateia ainda mais. O ônibus está chegando no maldito local, mas não preciso puxar a cordinha já que ali é o terminal. Isso também me chateia um pouco. Quando vou descer do veículo comprovo que estava assustadoramente enganado quanto a possível presença da mulher bonita da condução. Mas agora já estou de volta ao mundo real e preciso pegar logo o metrô. Talvez esteja plenamente feliz novamente. Talvez nem tanto assim.



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A passagem de ônibus vai subir e meus leitores de garbo e elegância pensarão "que texto de pooooooooooobre". Paciência, Iracema. Paciência.


11 comentários:

Anônimo disse...

Pobre não Ro..só ligeiramente miserável!

Nem posso dizer "ainda
bem que só pego metrô", pq agora até lá parece uma grande lotação em horario de pico até as 6 da manha ou 3 da tarde depois que foi colocada a integração
mas..
"Paciencia, Iracema. Paciencia"
=p

Anônimo disse...

poxa..não é anônimo não!

foi a Tatinhaaaaa

adoro aparecer

Anônimo disse...

ônibus novo não tem cordinha.


paciência não, ahhh não aceito! 2,30 é muito!

Don Rodrigone disse...

não tem cordinha? vai ver que é por isso que não consegui puxar...

Raquel disse...

Ai, ouvi no rádio que as passagens aí vão aumentar, o que significa que logo aumentarão aqui, na roça! :x

Esses meninos que entram no ônibus são complicados mesmo, já te contei a história medonha que passei uma vez, né?

Costumo não olhar pro lado no ônibus, a gente evita de levar susto. :p

E essa condição de usuário de ônibus é passageira... ou não =D

Também enjoo quando leio ou escrevo no ônibus, mas não desisto de fazê-lo. Não tem nada pra fazer, eu não tenho discman.

Estou sem paciência e criatividade pra escrever no blog, então só vou postar aqui mesmo, quando atualizar te falo /)

beijo e boa noite

Anônimo disse...

Há sempre a esperança de haver uma boa moça no metrô ...

Raquel disse...

Bom, ontem estava muito inchado, agora está diminuindo. Continua chato comer, mas a dor passou, nem estou tomando dipirona.

Anônimo disse...

Eu hoje acordei com vontade de cantar, de sorrir, de escrever, de namorar, de nada! Sabe aqueles dias de bocejo? De contemplação?
Minha ida à Universidade – 60 km de transporte público intermunicipal - seria suave...Minha sauna seria o microônibus. O forro dos acentos exalava pureza de cachorro molhado...O doidinho que insiste em trocar grana por passe me oferece uma bala. A moça da cabine da empresa de transportes ouve em auto romantismo Roberto e Romário, ou talvez, Daivelling e Wudson. E o ar...aquele abafado de metrópole fatalista. A luz baixa. Tudo em shutter(?) baixo.
Ao meu lado um senhor se questiona o absurdo de se aumentar os preços das passagens enquanto retira secreção do nariz. Um moço pra lá de gordo sua rios de óleo pelo rosto e pelos sovacos. Ingere bolachas da marca Delícia ao mesmo tempo em que se esforça para atender ao telefone celular. Daqueles com antena e bateria bigorna.
E eu? Eu nem aí. Observando tudo com olhos estrangeiros. Sentindo o cabelo na nuca. A boca no rosto. A unha no seu devido lugar.
Um homem se levanta do banco. Daqueles localizados na parte traseira. Que são altos e distantes de todo o resto. O homem (menino) também era alto. Com ares reflexivos. Pensava talvez na poluição. No caos da cidade. Na forma descompassada dos transeuntes. Do instante em que o vi até sua puxada na cordinha e sua descida meus olhos saíram do lugar. Meus braços sumiram. Era ele minha alegria inexplicável. Será que me olhava durante todo o trajeto? Será que se importava com impostos? Com taxas? Desceu degrau por degrau. Foi embora. Minha dor de cabeça era real. As filas também. Amanhã serei eu a dar pitaco. A acordar desacreditava. A dormir sonhando com ele e com o dia em que o salário mínimo seja suficiente para cantar dentro do ônibus.

Daiana de Costa disse...

HUmm, eu também faço umas visitas diárias por essas bandas hehehe.
O teu está atualizado, já o meu...
Mas prometo colocar algo de novo lá ;P~

Má B. disse...

Às vezes é melhor ter preguiça que encarar um jaburu logo de manhã :D

E teu texto lembrou o meu sobre sexo no ônibus com mancos albinos:

http://autodidatica.blogspot.com/2006/08/pra-no-dizer-que-no-falei-das-flores.html

Unknown disse...

essa do menino da bala pedindo desculpas por atrapalhar a viagem e agradecendo quem ajudou e agradecendo da mesma forma quem não ajudou é foda!!
só quem pega ônibus todo dia memso pra entender o humor da coisa...