Os dois bancos altos do ônibus estão ocupados. Quase todos os outros também estão. As pessoas sentam-se próximas ao corredor, para evitar o Sol ardido da manhã e para evitar a companhia de um desconhecido num ônibus ainda não muito cheio. Procuro um lugar e só encontro o mais deprimente de todos: o banco de trás do mais alto do ônibus, aquele que é do mesmo tamanho e, ao mesmo tempo, menor que todos os outros. Eu sou menor quando estou ali. No Discman ouço The Who, bocejo e me sinto estranhamente infeliz. Acredito sinceramente que uma moça bonita passou pelo corredor e sentou-se mais ao fundo do ônibus. Falta coragem e sobra preguiça para confirmar essa desconfiança. O homem da bala passa por baixo da catraca, pede desculpa por atrapalhar a viagem e oferece a todos “as deliciosas balas de goma, três por um real, quem conhece sabe que é de qualidade, eu vou tá deixando na mão dos senhores passageiros, quem puder me ajudar eu agradeço e quem não puder eu agradeço da mesma forma, uma boa viagem a todos e que Deus abençoe”. Ele vai embora com algumas moedas na mão. Eu continuo na árdua tarefa de rabiscar alguma coisa numa folha de rascunho: letras tortas, idéias irrelevantes, conceitos equivocados, tudo o que faria um bom jornalista que escreve em ônibus e não quer utilizar mais de um longuíssimo parágrafo. Escrever ou ler em um veículo me deixa ridiculamente enjoado e isso me chateia ainda mais. O ônibus está chegando no maldito local, mas não preciso puxar a cordinha já que ali é o terminal. Isso também me chateia um pouco. Quando vou descer do veículo comprovo que estava assustadoramente enganado quanto a possível presença da mulher bonita da condução. Mas agora já estou de volta ao mundo real e preciso pegar logo o metrô. Talvez esteja plenamente feliz novamente. Talvez nem tanto assim.
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A passagem de ônibus vai subir e meus leitores de garbo e elegância pensarão "que texto de pooooooooooobre". Paciência, Iracema. Paciência.
11 comentários:
Pobre não Ro..só ligeiramente miserável!
Nem posso dizer "ainda
bem que só pego metrô", pq agora até lá parece uma grande lotação em horario de pico até as 6 da manha ou 3 da tarde depois que foi colocada a integração
mas..
"Paciencia, Iracema. Paciencia"
=p
poxa..não é anônimo não!
foi a Tatinhaaaaa
adoro aparecer
ônibus novo não tem cordinha.
paciência não, ahhh não aceito! 2,30 é muito!
não tem cordinha? vai ver que é por isso que não consegui puxar...
Ai, ouvi no rádio que as passagens aí vão aumentar, o que significa que logo aumentarão aqui, na roça! :x
Esses meninos que entram no ônibus são complicados mesmo, já te contei a história medonha que passei uma vez, né?
Costumo não olhar pro lado no ônibus, a gente evita de levar susto. :p
E essa condição de usuário de ônibus é passageira... ou não =D
Também enjoo quando leio ou escrevo no ônibus, mas não desisto de fazê-lo. Não tem nada pra fazer, eu não tenho discman.
Estou sem paciência e criatividade pra escrever no blog, então só vou postar aqui mesmo, quando atualizar te falo /)
beijo e boa noite
Há sempre a esperança de haver uma boa moça no metrô ...
Bom, ontem estava muito inchado, agora está diminuindo. Continua chato comer, mas a dor passou, nem estou tomando dipirona.
Eu hoje acordei com vontade de cantar, de sorrir, de escrever, de namorar, de nada! Sabe aqueles dias de bocejo? De contemplação?
Minha ida à Universidade – 60 km de transporte público intermunicipal - seria suave...Minha sauna seria o microônibus. O forro dos acentos exalava pureza de cachorro molhado...O doidinho que insiste em trocar grana por passe me oferece uma bala. A moça da cabine da empresa de transportes ouve em auto romantismo Roberto e Romário, ou talvez, Daivelling e Wudson. E o ar...aquele abafado de metrópole fatalista. A luz baixa. Tudo em shutter(?) baixo.
Ao meu lado um senhor se questiona o absurdo de se aumentar os preços das passagens enquanto retira secreção do nariz. Um moço pra lá de gordo sua rios de óleo pelo rosto e pelos sovacos. Ingere bolachas da marca Delícia ao mesmo tempo em que se esforça para atender ao telefone celular. Daqueles com antena e bateria bigorna.
E eu? Eu nem aí. Observando tudo com olhos estrangeiros. Sentindo o cabelo na nuca. A boca no rosto. A unha no seu devido lugar.
Um homem se levanta do banco. Daqueles localizados na parte traseira. Que são altos e distantes de todo o resto. O homem (menino) também era alto. Com ares reflexivos. Pensava talvez na poluição. No caos da cidade. Na forma descompassada dos transeuntes. Do instante em que o vi até sua puxada na cordinha e sua descida meus olhos saíram do lugar. Meus braços sumiram. Era ele minha alegria inexplicável. Será que me olhava durante todo o trajeto? Será que se importava com impostos? Com taxas? Desceu degrau por degrau. Foi embora. Minha dor de cabeça era real. As filas também. Amanhã serei eu a dar pitaco. A acordar desacreditava. A dormir sonhando com ele e com o dia em que o salário mínimo seja suficiente para cantar dentro do ônibus.
HUmm, eu também faço umas visitas diárias por essas bandas hehehe.
O teu está atualizado, já o meu...
Mas prometo colocar algo de novo lá ;P~
Às vezes é melhor ter preguiça que encarar um jaburu logo de manhã :D
E teu texto lembrou o meu sobre sexo no ônibus com mancos albinos:
http://autodidatica.blogspot.com/2006/08/pra-no-dizer-que-no-falei-das-flores.html
essa do menino da bala pedindo desculpas por atrapalhar a viagem e agradecendo quem ajudou e agradecendo da mesma forma quem não ajudou é foda!!
só quem pega ônibus todo dia memso pra entender o humor da coisa...
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