sábado, outubro 27, 2007

O poder da gata e o Antonio



A gata usa um camisão oversize e uns sapatos estranhos. Ela dubla o narrador que a apresenta no palco. Ela vai de um canto ao outro do palco com passos excêntricos. Ela reclama do áudio. Ela solta aquela voz impossível. Ela recita Billie Holliday, murmura Sinatra, sussurra James Brown. Aquela voz rouca, frágil, intensa. Ela canta "The Greatest" e tudo fica bem. Não canta "Love and Comunication" nem "He war". Não fazem a menor falta. Ao final, ela agradece as palmas com uma perna para trás, a cabeça grudada no braço estendido para cima, fazendo um aceno esquisito. Ela diz que não merece as palmas. Além de tudo, é mentirosa essa Cat Power, essa Chan Marshall.




O Antonio chegou com toda sua androginia e seu punhado de Johnsons prontos a rasgar corações com faquinhas de cortar rocambole. Ao vivo, não me pareceu que sua voz lembre tanto a da Nina Simone. A voz é dele mesmo: desesperadora, angustiante, reconfortante, linda. "My lady story" inicia a jornada de sensações interrompida logo na seqüência pelo próprio cantor ao perceber que tinha se perdido na música. Ele disse estar entusiasmado e recomeçou, sem pudores, a mesma música. Parava canções, falava a todo momento, fazia discursos feministas, contava causos homoeróticos da banda, falava mais um pouco e então cantava. Muito. Cantava muito. Conseguiu transformar "I will survive" numa música que para quem esteve naquele show, ganhou uma versão definitiva. A música não é mais a mesma depois de cantada pelo Antonio. O mesmo pode se dizer de "Candy says" do Lou Reed na voz dele. Aliás, Antony é "protegido do lendário mr. Reed, o que já diz muita coisa sobre seu talento.

Eu liguei para algumas pessoas queridas ouvirem um pedacinho daquela concorrida apresentação. A acústica do Auditório do Ibirapuera ajudou a quem não estava lá ter um pouquinho da dimensão do que foi aquela espetáculo. A minha irmã ouviu "You are my sister" e quase endoidou. Antes de cantar "Hope there's someone, ele queria que todos ali contemplacem o silêncio. E o silêncio se fez total e irrestrito. Pudemos ouvir extasiados o fim da apresentação. Inesquecível. Em breve coloco no Youtube a matéria que fizemos sobre o Tim Festival. Domingo é no Anhembi. Vai ser bom. Provavelmente a Björk chame o Antony (é, ok, Antony) para cantar junto "The Dull Flame of Desire". Mas em vez de 800 pessoas, teremos dez mil incógnitas provavelmente esperando apenas pelos Killers e que não terão a dimensão do que perderam musicalmente. Azar o deles.


ps: fotos "emprestadas" do Portal G1

2 comentários:

Jota disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jota disse...

como eu gosto da bjork, queria poder ter ido pro tim festival pq pra Bahia acho dificil ela vim!

ah sim, posso te linkar no meu blog? vou linkar, tah?!?