sexta-feira, março 30, 2007
Morte e Vida Rodrigone
Eu me lembrei do dia em que morri. Lágrimas, cigarros, culpa e desespero. Aquela intransigente sensação de perda para todo sempre. Desamparo. Acordei e fui tomar café. Deus, como eu odeio café.
segunda-feira, março 26, 2007
memórias daqueles longos anos de um jovem perdedor
Hoje eu vou jogar futebol. E não estou mais preocupado com inaptidão para esse esporte. Durante anos tive de me contentar em ser feliz apenas jogando bola na rua (onde eramos todos iguais) já que na escola, os bonzões definiam quem fazia parte do time. Era degradante mas, por fim, resignante. Ao menos sempre tinha uns dois panacas a serem escolhidos depois que eu era. Triste foi o dia em que escolheram até o gordinho mais tosco da sala antes de mim. Aí mexeram com meus brios. Fui lá e mostrei do que era capaz: um gol sem querer em cima do goleiro zarolho e um futebol esplendorosamente ruim. Isso se seguiu durante toda minha tenra juventude. Mas ser um loser na infância tem grandes vantagens na vida adulta. A gente precisa aprender a ter qualidades, a se esforçar pra ser bom... a impressionar garotas por outras coisas (eu não conseguiria impressioná-las nos meus primeiros 18 anos de vida, acho, mas até aí não vem ao caso).
No colegial, ainda era o fedelho, o motivo de chacotas: aquele moleque magrelo, mais novo da turma, alto, desengonçado e tímido. Os “legais” eram caras até realmente bacanas... mas sozinhos... quando se juntavam, infernizavam este pobre otário para mostrarem como eram divertidos. Até que um dia consegui certo respeito. Fomos participar do campeonato intercolegial. Só que esses sujeitos eram jogadores horríveis e nosso time mal completava cinco pessoas. Eis que eu era indiscutivelmente titular... e visto com toda aquela desconfiança. Só que para calar a boca de todos, faço um gol e cavo um pênalti. Pego a bola e digo que vou bater. Tomo distância e encho o pé. O goleiro defende e nosso time perde de 12 a 1. Com um gol meu. No outro dia fui parabenizado por todos os colegas que souberam da façanha futebolística do loser da sala. Talvez depois daquele dia tenham passado a minimamente me respeitar. Mas é provável que não. Só que desde então consegui pequenas vitórias... tardias, mas ainda assim vitórias! Vitórias morais, talvez. Como aquela vez em que consegui ficar com minha primeira paixão de escola (eu tinha oito anos) quase quinze anos depois. Isso foi bem legal. E hoje eu vou jogar bola. E mesmo correndo o risco de ser um desastre, sei que sou um cara bem bacana. Ou talvez nem tanto assim. Mas vou marcar um gol com minha chuteira nova. E vamos beber cerveja depois. Isso também é bem legal.
No colegial, ainda era o fedelho, o motivo de chacotas: aquele moleque magrelo, mais novo da turma, alto, desengonçado e tímido. Os “legais” eram caras até realmente bacanas... mas sozinhos... quando se juntavam, infernizavam este pobre otário para mostrarem como eram divertidos. Até que um dia consegui certo respeito. Fomos participar do campeonato intercolegial. Só que esses sujeitos eram jogadores horríveis e nosso time mal completava cinco pessoas. Eis que eu era indiscutivelmente titular... e visto com toda aquela desconfiança. Só que para calar a boca de todos, faço um gol e cavo um pênalti. Pego a bola e digo que vou bater. Tomo distância e encho o pé. O goleiro defende e nosso time perde de 12 a 1. Com um gol meu. No outro dia fui parabenizado por todos os colegas que souberam da façanha futebolística do loser da sala. Talvez depois daquele dia tenham passado a minimamente me respeitar. Mas é provável que não. Só que desde então consegui pequenas vitórias... tardias, mas ainda assim vitórias! Vitórias morais, talvez. Como aquela vez em que consegui ficar com minha primeira paixão de escola (eu tinha oito anos) quase quinze anos depois. Isso foi bem legal. E hoje eu vou jogar bola. E mesmo correndo o risco de ser um desastre, sei que sou um cara bem bacana. Ou talvez nem tanto assim. Mas vou marcar um gol com minha chuteira nova. E vamos beber cerveja depois. Isso também é bem legal.
quinta-feira, março 22, 2007
não é bem assim
Ela disse que eu sou muito. Para poucos, mas muito. E para ela? Não ela, ela. Ela, aquela. O quanto preciso ser para ser o suficiente? Mais do que sou ou menos do que tenho sido? “Seja você mesmo”, diria o sábio clichê. Desde que esse mesmo não irrite muito, claro. “Ah, cala a boca e beija logo”, afirmaria outro sábio. Que assim seja, espero.
terça-feira, março 20, 2007
O amor nos tempos de Garcia Márquez
Era o último dia do verão e ela lia o mesmo livro que o rapaz. Mais um do Garcia Márquez. Bem ali ao seu lado, num vagão de metrô. Dois solitários apaixonados pelo mesmo escritor. Ela podia estar no vagão ao lado lendo Saramago. Ele poderia não ter ido ao cinema. Eles poderiam estar a metros de distância sem perceber que liam “O amor nos tempos do cólera”. Ela já quase acabando, ele ainda no início. Ela com um exemplar novinho, ele com um adquirido em sebo. Ele tomou coragem e foi falar com ela. Ele precisava falar com ela. A literatura os uniu. A rotina iria desgastá-los. Seinfeld iria revigorá-los. Será que já percebiam a obrigatoriedade literária que a história deles possuia? Deveriam ter um final piegas e até óbvio como ele e todos nós queremos na vida real? Ou de forma criativa e corajosa, algum fato tornaria aquela história impossível?
Todo bom leitor sabe que nenhum amor pode ser assim tão fácil. Com isso em mente, eles decidem complicar. Ela está saindo de um relacionamento a pouco tempo. Ele não está pronto para algo sério. Melhor a gente se conhecer melhor primeiro. A gente se dá melhor como amigo. Nenhum dos dois se convenceram. Então lembraram de Gabo.
Ele lembrou dos lindos olhos amendoados dela... e “era inevitável, o cheiro das amendôas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados”. Mas o que há de contrário nesse amor?. “Gosto de você não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo”. Caramba, Gabo! “A essa estirpe condenada a cem anos de solidão, não será dada uma segunda chance na Terra”. “Putz, mas cem anos é foda, hein?”. Enquanto isso, assistiram mais Seinfeld e decidiram não racionalizar nada (por enquanto).
Todo bom leitor sabe que nenhum amor pode ser assim tão fácil. Com isso em mente, eles decidem complicar. Ela está saindo de um relacionamento a pouco tempo. Ele não está pronto para algo sério. Melhor a gente se conhecer melhor primeiro. A gente se dá melhor como amigo. Nenhum dos dois se convenceram. Então lembraram de Gabo.
Ele lembrou dos lindos olhos amendoados dela... e “era inevitável, o cheiro das amendôas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados”. Mas o que há de contrário nesse amor?. “Gosto de você não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo”. Caramba, Gabo! “A essa estirpe condenada a cem anos de solidão, não será dada uma segunda chance na Terra”. “Putz, mas cem anos é foda, hein?”. Enquanto isso, assistiram mais Seinfeld e decidiram não racionalizar nada (por enquanto).
segunda-feira, março 19, 2007
a dialética do cu doce (ou o ato de investir nas categorias de base)
-O que há de errado com vocês homens?
-Errado?
-É. Vocês continuam uns cachorros, não valorizam as mulheres que ficam.
-Acho que você está exagerando, não?
-Nada! Eu, minhas amigas... nunca vi tanta mulher bacana sem ninguém...
-Mas pera lá... sem ninguém porquê, cara-pálida?
-Ué, porque esses babacas não nos valorizam!
-Mas então por qual motivo vocês insistem sempre nos mesmos?
-E a gente lá controla nossos sentimentos?
-Não. Mas sempre um dos dois complica, né? “Ah, acabei de sair de um relacionamento”. “Oh, você gosta mais de mim e tenho medo de te magoar”.
-É. Eu não entendo. Como pode?! Eu tô penando... e não é com garotinho não, é cara maduro!
-Hmm. Pois é. Acho que é como no futebol, na real. O vacilo de vocês é não valorizar as categorias de base. Investem nos estrelões, naqueles que já tem fama, são consagrados e tal... e perdem os jovens talentos com enorme potencial (inteligentes, interessantes, etc)... aí esses jovens de talento vão ficar fodões, vão pro futebol europeu... passe valorizado e tal... então serão metidos e esnobes! Aí a mulherada cai matando quando eles ficarem mais concorridos. Lembre-se que vocês são a maioria da população. E tem viado pra caramba (não que haja algo de errado nisso, como diria Jerry Seinfeld). Valorizem as categorias de base... os talentos de vinte, vinte e poucos... antes que o mercado europeu nos contrate... aí vamos ficar difíceis.
***
Faz sentido, vai?
-Errado?
-É. Vocês continuam uns cachorros, não valorizam as mulheres que ficam.
-Acho que você está exagerando, não?
-Nada! Eu, minhas amigas... nunca vi tanta mulher bacana sem ninguém...
-Mas pera lá... sem ninguém porquê, cara-pálida?
-Ué, porque esses babacas não nos valorizam!
-Mas então por qual motivo vocês insistem sempre nos mesmos?
-E a gente lá controla nossos sentimentos?
-Não. Mas sempre um dos dois complica, né? “Ah, acabei de sair de um relacionamento”. “Oh, você gosta mais de mim e tenho medo de te magoar”.
-É. Eu não entendo. Como pode?! Eu tô penando... e não é com garotinho não, é cara maduro!
-Hmm. Pois é. Acho que é como no futebol, na real. O vacilo de vocês é não valorizar as categorias de base. Investem nos estrelões, naqueles que já tem fama, são consagrados e tal... e perdem os jovens talentos com enorme potencial (inteligentes, interessantes, etc)... aí esses jovens de talento vão ficar fodões, vão pro futebol europeu... passe valorizado e tal... então serão metidos e esnobes! Aí a mulherada cai matando quando eles ficarem mais concorridos. Lembre-se que vocês são a maioria da população. E tem viado pra caramba (não que haja algo de errado nisso, como diria Jerry Seinfeld). Valorizem as categorias de base... os talentos de vinte, vinte e poucos... antes que o mercado europeu nos contrate... aí vamos ficar difíceis.
***
Faz sentido, vai?
quarta-feira, março 14, 2007
Esse aqui sobe toda a Teodoro Sampaio?
O ônibus está cheio e ela segura uma flor na mão. Ele balbucia uma canção do Cartola. Ela ajeita o cabelo e sorri. Ele se enche de esperança. Ela tenta disfarçar seu interesse. Ele puxa a cordinha e desce. Ela olha confusa pela janela. Ele sorri da calçada. Ela murmura “Seu panaca”... e também sorri.
sexta-feira, março 09, 2007
O amor engajado nos tempos do gás de efeito moral
-Vamos protestar contra o imperialismo sob esse forte sol de março, querido? Vamos dizer “Yankee go home” quando a brisa refrescante de fim de tarde nos atingir, benzinho? Vamos limpar nossos ferimentos de bala de borracha juntos como se a gente fosse um só, mô? Vamos nos deitar sobre a bandeira dos EUA e depois atear fogo nela e em nosso corpos apaixonados, ó amada? Vamos chorar juntos o gás lacrimejante que os gambés atirarão, baby? Que tal, meu amor?
-Não fode, querida.
-Não fode, querida.
segunda-feira, março 05, 2007
ah, o amor
-Quando o carnaval acabar você vai voltar e ver a mulher que perdeu. Aí não vai adiantar mais. Você atingiu o limite. Chega. Você me decepcionou de todas as formas possíveis. Eu tô com nojo, sabe? Como alguém pode ser assim tão mesquinho e sórdido. Eu te odeio!
-Me perdoa, benzinho?
-Não!
-Perdoa, vai?
-Tá.
-Eu gosto de você.
-Eu te amo!!!
-Ok.
-Me perdoa, benzinho?
-Não!
-Perdoa, vai?
-Tá.
-Eu gosto de você.
-Eu te amo!!!
-Ok.
sexta-feira, março 02, 2007
Será que é isso mesmo?
"O autor jovem sempre fala de si mesmo, até quando fala dos outros, ao passo que o autor maduro sempre fala dos outros, mesmo quando fala de si mesmo."
(Stephen Vizinczey)
(Stephen Vizinczey)
Assinar:
Postagens (Atom)